tag:blogger.com,1999:blog-11121080153196008052023-11-16T06:16:34.545-08:00Histórias da Menina-CãoAna e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.comBlogger17125tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-77150158218099392052011-09-28T14:20:00.000-07:002011-09-28T14:45:56.667-07:00Postal quando o comboio passaSempre que o comboio passa, assomam à janela. Creio que são os únicos habitantes da casa que se encontra parcialmente em ruinas. À porta alguém fez uma vedação com tapumes e caixotes para não deixar mais ninguém entrar. Modelo da arquitectura de princípios do século XX, a casa tem um recorte fino que os dias e a falta de uso foram esmiuçando em abandono. E é no mirante avançado, de janelas vazadas em arcos de ferradura, que os três sempre aparecem a ver-nos passar. Fazem-me lembrar as Triplettes de Belleville, três que são, ainda que não ladrem ao ronco do comboio em avanço.<br /><br /><br /><p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657526412088474130" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 264px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG0DGtTHqFpUBdRS95jNoa5iwGj32aWJU7hYLLd7eN5oFQz70EZaqFp-1QtjTPt0p-0eR2P7Q7LjnZwc4NVETW7WfapiRcTE7UQoRjcntRNcmUiwZr-ROW8qWGGB03lpsjYzxJGGftw4s/s400/Untitled-0A.jpg" border="0" />Um é preto, esguio, com ar de patriarca, focinho esbranquiçado e olhar vigilante. Outro é um Cocker cor de mel, de idade avançada como o pelo mal encaracolado descobre. O terceiro, mais novo, todo sarapintado a duas cores, preto e branco, como os cavalos índios dos filmes americanos, é o mais irrequieto e nem sempre o vejo aparecer.<br />Imagino que vivem sozinhos na grande casa como uma trupe de ocupas, espreitando caixotes do lixo, aos restos e a colher gestos espontâneos de afecto pela vizinhança. Pergunto-me porque correm sempre tanto quando o comboio passa e se apressam a exibir as três cabeças esticadas. Mas já lhes surpreendi olhares seduzidos, de quem se imagina maquinista de farda ou revisor a farejar os faltosos. Creio mesmo que o cão preto e esguio prepara todas as manhãs os caninos para picar os bilhetes de quem espera no cais. O sarapintado talvez gostasse de o enganar.<br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657524596524397138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 311px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLj4RjERVvMlt768fU-K_7JhFMbGD8tJVMmgBFiB3qRrOUY2V7ZWogECCSFcDH13UV_0eX68nwBpCPZqdT1ilx7aOjwK9l4BDnbjOWmp4d1fH8wzEsPHkN-VldZj6K0q2-0fT5IK3VIbw/s400/Untitled-3.jpg" border="0" />O Cocker velho, estou certa, já só pensa em viajar, sentar-se nos bancos coloridos reservados aos idosos e perder-se, em movimento, na paisagem que todos os dias vê de casa, parado à janela. </p><br /><p><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgifqT4eMmpL9MUDlmV9UsqICIGyJgtiz9ZsRjZSz47lsf2ADpPDrQFh5BcYzqouhYzr8fgDpYYnZ52PAEIFBe4WaYVKg0Jlx8Hm5jMR48ORqkoZqZ_8-WhWtlJURnHMmVONdbnVaWcQT0/s1600/Untitled-2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5657524733757531458" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 224px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgifqT4eMmpL9MUDlmV9UsqICIGyJgtiz9ZsRjZSz47lsf2ADpPDrQFh5BcYzqouhYzr8fgDpYYnZ52PAEIFBe4WaYVKg0Jlx8Hm5jMR48ORqkoZqZ_8-WhWtlJURnHMmVONdbnVaWcQT0/s400/Untitled-2.jpg" border="0" /></a></p>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-86268415885478805912011-08-03T13:38:00.000-07:002011-08-03T13:43:43.403-07:00Um postal de lata na mãoSe eu tivesse uma lata de spray, saía pela linha a grafitar. Escondia-me à passagem dos comboios, em busca da melhor parede e esgalhava palavras em letras grandes para vermos bem, como se fossemos míopes e não tivéssemos óculos a condizer. Não deixava que me apanhassem, de tanto que corria entre murais e, se conseguisse, na gincana das superfícies livres, ainda pintava uma carruagem a dizer “já nada é como nunca foi”, mas apenas na parte debaixo das janelas, porque gostava que os passageiros vissem a paisagem entrecortada com o dizer. <br /><div><br /><p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5636732460085641842" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 268px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlXcjlsNvwwg4RaTka_gVDqwv1Q5O3kDs-5MPqHdR2BQpLM-awbD0o_Dx7pJI-GAyUMSUBUNEfmw61diVIFJxyNCURa_Qsh9Drbqv7btelTSfoG4FMtTY2l225QuIb_B1CjSvQqclIWBw/s400/01A.jpg" border="0" />Nas paredes de betão inclinadas sobre os carris, equilibrava-me oblíqua como na garupa de um ginete e escrevia “¡A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar!” Para que as palavras e o rio ao fundo, passassem velozes e o comboio em movimento fizesse deles, um só, em contínuo. Gostava de ter uma lata de spray, para poder desenhar caras a ver-nos passar de quando em vez. Franzia o sobrolho a uma, riscava um sorriso noutra, esticava-lhes muito as orelhas como se tentassem ouvir as nossas conversas ao passar. </p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5636732875015541538" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 390px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjs6cPkYB4BrZjiT1mm4ELK504tcXTk_-EpWuBfId_Ri_hqeGSmLNLRSb7TCRqiK0weAMJs-AL4pIPtTuVLswgpSRq_x_nvL0-Rgg6sKZhw7b-kVjfl0rsRFJtTWPYX9c3XlpjcNnpC1lo/s400/02A.jpg" border="0" /> <br /><p>Chamava dois ou três amigos para nos rirmos a cada desenho e avançarmos ao despique à medida que preenchêssemos os intervalos da visão com frases ouvi<a name="_GoBack"></a>das em qualquer lado. </p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5636732695691770642" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 357px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1_XXlVmY0RCuGoaodN65UgBV_2yQRENdHqQyqNBETKLrvozMhOBfvuQ7VivqkcMTXm9_QRjybTuBHVfk6j-3efPqnGhyphenhyphen85Gi550dYU4CnURYOwZ62UNd7IaNMWuWtlnxwA2ym74O6doc/s400/03A.jpg" border="0" /> Nas escadas do bairro podia lançar que ” Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu, eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia” para depois acelerar passo pelo baldio, antes que dessem conta da malfeitoria. Podia mais adiante escrever-te um postal de parede, a contrastar com os de papel, que poderias ler com um telescópio. Desenhava-lhe um selo imaginado com um spray fininho e agitava a lata linha fora, como se te acenasse em despedida. </div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-14486908407634709712011-05-05T06:28:00.000-07:002011-05-07T03:43:47.108-07:00Postal em passo de corrida<div>Hoje já havia banhistas junto aos pneus que o Verão ainda não retirou da praia e escaldam ambos ao sol, nos refegos da sua compleição, espalhados pelo areal.<br />Os meus olhos fixam-se nas três senhoras de ar antigo, fatos de banho coloridos e enormes chapéus de palha que avançam em passo decidido junto à borda da água. Riem muito na cumplicidade embalada pelo fresco da manhã que aviva as memórias e a língua afiada na crítica do quotidiano. <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5603223641059820162" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 323px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGxXfzViZCyKg_O_lzdJiha5kxcsPaxuLoFZf2_53gC6O05FBzL-GeiRzJPTc4XnyPFCjzxu-XpNBKL5umgWQu4miZuvONeb_EMevMDlY0WBJXRSuFGB4nezFnVy92GrnOwbiweKRLLTs/s400/Untitled-1A.jpg" border="0" />Vejo-as todas as manhãs, ora na praia, ora no paredão, com o passo marchado recomendado pelos médicos da televisão. Sempre que encontram as guardas metálicas de protecção contra qualquer queda para as rochas em baixo, detêm-se todas juntas, de costas para a linha de comboio, e só lhes vejo os chapéus de abas largas e meio troco comprimido pelos anos, a avançar e recuar em flexões esforçadas como se fossem cabos na recruta.<br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5603922867950915250" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 378px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYyHK7h5rFZIv00KFfBciEQMNEKEz1Sr8Pnkq0pye2Qse_MZveMtE4aAK-1CLqLc9JBOZ8tkJm-0dQ0r9-CFT995z4JY0FjFzjW4a7rXfVmtRs9GQmXfuKYZV4jYK3uArdoiso6qHPVc8/s400/Untitled-2A.jpg" border="0" /> <br /><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin833ME6Gp1cR-_nj60A2_sPwezyIkoLS-Q2VRh0j8F5nRJyO6btMOQoZ7PBX6FQGX4TGDt6nARM7RMkXWySJJoMFrY97D-H5IrV_dhJ6Tc0Y47B_lG3ZKVPtk6m0Hg0fVG3khA1eATT4/s1600/Untitled-2A.jpg"></a>O exercício sai meio torto, mas o que conta é a intenção, já deixaram o sonho de ser ginastas há muito. Uma delas chegou a ser federada mas o casamento trocou-lhe as voltas. Agora viúva e os filhos já criados é craque do varão e incita as amigas ao exercício, reinventando enunciados da juventude.<br />Retiro da mochila o chapéu de pano florido e alinho a corrida de aquecimento, antes de me juntar às minhas companheiras de manutenção. Saúdam-me festivas ao verem-me chegar. Na bolsa exterior ficou o postal que te escrevi. Espero não me esquecer de o pôr no correio quando regressar a casa.<br /><br /><br /><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5603223885336945026" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 239px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgHFf6FkePE4mdyFGyhMURGU434lqWSuhXN-8sabI-GBR7KSPGb92LDBFEsaeKJJ0HmgE3nu-VaIAbvdcpDU3NaVpYizVb-dbdmHQkECx7WyShIfmB1Ct8yvBKlaFEUC6EB0vuxUY8oc0/s320/Untitled-3A.jpg" border="0" /> </div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-71583271336012698562011-04-08T12:52:00.000-07:002011-04-08T13:43:11.458-07:00Postal a dançar no céu<div>Ninguém percebeu ao certo como tudo aconteceu. O barulho foi estridente, de metal contra metal, como o silvo de um foguete ou giz sobre ardósia. Mas ampliado várias vezes. Mesmo o Roberto lá no alto se mostrou surpreendido. Até porque, até aquela hora, nada naquela manhã decorrera fora do habitual. Levantou-se como sempre fazia com o despertador a tocar às dez para as seis e o galo de um quintal próximo a acompanhar, de forma intermitente. Era noite escura e lá fora uma ou outra luz a quebrava a monotonia da paisagem. Nos rituais de higiene matutina sentiu a água fria activar-lhe os músculos da cara e afeitou a barba, como se talhasse um pedaço de madeira. Sempre tivera aquela compleição seca que lhe reforçava as maças do rosto, a boca larga, as orelhas salientes, que lhe tinha valido em criança a alcunha de Pinóquio. <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5593303430090942434" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 285px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwKb1xTvvPUau8DMwnfJW9yvrboFDksonketKxZrBBBz3KE0tuXEkzx_Ig3_VQo8KhnigdkMkQo5PMXHBhqrqnDniYlgE3RF60KwVjfUmF_42fNO4U1v5c4bslPod1E_5oHKrsTXvQ6m4/s320/Untitled-1B.jpg" border="0" /> <br /><div><br /><div><br /><div></div><br /><div>Acabou de acordar à medida que se aproximava da cidade, de camioneta primeiro, de barco depois, viu o reflexo do sol despontar nas poças do molhe junto ao cais, já em Lisboa. Além do saco onde trazia o termos com as sobras do jantar, um papo-seco com marmelada e um cantil com água, carregava todas as segundas e quartas, uma mochila às costas. Hoje parecia-lhe particularmente pesada, mercê das sapatilhas quase novas compradas por anúncio de jornal em Almada. Cerca de 40 euros e um couro de meter inveja. Embalado, tinha comprado também o respectivo kit de polimento e graxa. Não via a hora de as calçar e deslizar pelo soalho como se tivesse asas nos pés. </div><br /><div></div><br /><div>Enquanto pendurava o casaco no prego improvisado de cabide projectou mentalmente o momento em que, findo o do dia, despiria o cansaço arrumando os Jeans e a camisa de quadrados no cacifo. Sentar-se-ia nos bancos de madeira corrida para vestir o fato de licra preta como se envergasse calças e casaca. Estava tão concentrado a apertar os atacadores e a experimentar o som das chapinhas com parafusos de solda que nem deu pela entrada dos outros operários no recinto vedado das obras. Enquanto se foram cumprimentando e distribuindo pelos postos de trabalho, tacteou o chão em pequenos soluços a fazer vibrar o metal. </div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5593305158488102674" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 278px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyoivjDg15wHVNwttkCAgQNL9yLZfY3JvoQrjw67f1DttLl_tKuEE3IaAN4nvWpz7forvYfVK5kizUEJ9UMutcDanpusNhslUstlNCQm3i7lyjuDWBMhQgpQnuRgVVOY7RNKZLJjt_AaM/s400/Untitled-2B.jpg" border="0" />Apertou os botões de punho à medida que arregaçava as mangas à camisa, esticou o peito e começou a subir a longa escada sentindo fluir o ritmo da música em ascensão. Sacudiu as abas de grilo do fraque, como um toureiro agita a capa em desafio ao touro. Olhou de soslaio para baixo na esperança de ver surgir atrás de si Adélia do café Ginja do Tejo, vestida de cerimónia, a esvoaçar na grande saia branca emplumada pelo vento, tal qual a actriz loira dos filmes de sapateado. A melodia envolveu-os e estavam já distantes da terra, suspensos na bolha de vidro da cabine de comando. Sedutor, sorrindo sempre com muitos dentes, guiou-lhe os passos pelas nuvens <br /><div></div><br /><div>Heaven, I'm in heaven, </div><br /><div>And my heart beats so that I can hardly speak </div><br /><div>And I seem to find the happiness I seek </div><br /><div>When we're out together dancing, cheek to cheek </div><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5593304506275638082" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 338px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJTAVIDSnYFKJQiOXOdbcpkYhAehi1-e6scvTlQoROu9OOMt15zhgLV6QkLu5BLPXaWufcfsdZhRIbTl1qdYw1-mIQEcMlz4D5xstKcqe3_hdu9RAQgaQSQGZbVLH05Dw14mdbKMahQ4I/s400/Untitled-3B.jpg" border="0" />E no exacto momento em que se preparava para fazer Adélia deslizar de costas sobre o seu braço, beijando-lhe ardente o rosto com o olhar e a respiração quente, foi acordado em alvoroço com o degagé da enorme grua sobre a cidade, entrando pela marquise de alumínio do prédio em frente, como se esperasse ser erguida em aplauso pelas gaivotas ali antes poisadas. Detenho-me maravilhada com o acontecido e avanço apressadamente para os correios para não perder a abertura. Consigo enviar-te este postal a tempo, com a cara vermelha do “Roberto manobrador” na ponta da caneta e o olhar incrédulo, de colegas e transeuntes, espalhado no papel e na memória. Enquanto espero a minha vez cruzo os dedos e faço figas na expectativa de ver surgir no placard luminoso dos talões: “Roberto Astaire e Ginger Grua: 10 pontos”! </div><br /><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5593315942703718546" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 261px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvAL63tm6lsokvcTLcpkRa0lFNuO3hNZsD7s2l4zMg0uaR9JE986OhfiMFbVwNQdNKKCAFEMBJEZ8n_FxLapCc7oNe-UaBEtzPjFAtwpManJvODRe0e285RDmQNCy_tIgZvxfoebhwYBc/s320/Untitled-5B.jpg" border="0" /> <br /><div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-50551425778024413752011-02-17T12:38:00.000-08:002011-02-17T12:47:08.370-08:00Postal a pisar rosas<div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil1htBMEsxcXYcIHV0IyNpY2niVqnvNV4-BBunwnr8IHXAWeb5CW9YLHT4DQFo5SsMEItLHx5JBp46_4tO1sVV21gyFjnPYK4NSN8ynSJvohn3V5ID_gxEKasHqVbbXZEMPzgset7ZijY/s1600/Untitled-1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5574761351914378402" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 237px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEil1htBMEsxcXYcIHV0IyNpY2niVqnvNV4-BBunwnr8IHXAWeb5CW9YLHT4DQFo5SsMEItLHx5JBp46_4tO1sVV21gyFjnPYK4NSN8ynSJvohn3V5ID_gxEKasHqVbbXZEMPzgset7ZijY/s400/Untitled-1.jpg" border="0" /></a>Um dos barcos é dos pombos. Distingue-se dos outros pela cor verde-água e pelos tripulantes de duas asas que olham sobranceiros o mar. Juntam-se de tarde para ouvir as conversas dos homens que se sentam entre os destroços das barcaças a jogar cartas ou dominó, a lembrar viagens que nunca fizeram.<br /><div><div><div><br /><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5574761519665800914" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 305px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8gJGZ6IrTQAT0wp5WFhUzy2AcrE-9GphjQcx4rf0EGeKRaO_DFVpXxV_E4PmikOvajJ0mmB9iAyWjW7Sc6gOQ4EFpWX8hGznRI0a4ZogTP99wbfWsKtPFa0mPgWWv8OushJ_z91PxBfY/s400/Untitled-2.jpg" border="0" />São sobretudo pescadores amadores, reformados, gente que mora pelas redondezas e se senta ali a olhar o horizonte, a tecer, entre redes de nylon desusadas, contornos de histórias. Falam de futebol, das desavenças do dia-a-dia, da vida no bairro. Por vezes mencionam, de memória contada, os dias antes da construção do caminho-de-ferro. As hortas e os jardins que se estendiam em direcção à água, sem nada que separasse o quotidiano com a visão do progresso. O roseiral de Dom Martim impecavelmente protegido das geadas, com rosas de várias cores, presas por atilhos a uma armação, carnudas, espinhosas. </div><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5574761805517474306" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 349px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjc8VfghBs3bSvVlpuMuBwuJozmOYXaVp7k5a9w_FiNhwYBU7OeQW9noc2IIpfQUEEENhdBbkiztdIbX2g4y-OBlUs5FXOtBi9yqI5BJxWERfJ9lzotp5QkGIBZF0SA9g68VsXRmocMGmw/s400/Untitled-3.jpg" border="0" />Mas nenhum espinho foi tão agreste como o da linha de caminho-de-ferro em construção, a atravessar terrenos a grande velocidade. Nessa altura D. Martim já estava acamado, atacado por uma pneumonia que viria a ser fatal e toda a família procurou disfarçar o tum-tum dos martelos, o tremor que abalava a casa, o som das escavadoras a roerem o jardim. Deram graças por não ter ouvido já o som metálico das rodas nos carris a colherem os pés de rosa sob a promessa de outras velocidades e contemplações.<br />Cada vez que passo de comboio pelo roseiral de D. Martim, tapo os ouvidos para não ouvir o eco da maquinaria a trilhar caules e apetece-me abrir a janela gritando em passagem que “as rosas estão lindas”, que “floriram mais cedo este ano!”. Apesar de gostar tanto de andar de comboio e de ir avançando a olhar o mar enquanto te escrevo um postal…<br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5574762565481897778" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 311px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHJuUiW7bA7gAk-mbwrNlylSjaEz9zgR7PGOSXikgywIXxWxONrHIP4sUnDUsz3Nrk9CKCx05Ctjii1j9xSWjqagq-x7kI3aPZl8MqknKtbj9tNMVLeWGNhLUxLrD8EZUdEuAsTuJOAYw/s320/Untitled-4.jpg" border="0" /></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-57717455625673955512011-01-13T06:39:00.000-08:002011-01-13T06:43:39.934-08:00Postal a ver um ovni no BugioHá dias em que o mar e o céu se fundem e o Bugio parece planar no horizonte. As embarcações iludem o olhar movimentando-se nessa ausência de limite como se fosse possivel flutuar e não desaparecer para lá da curvatura da terra.<br />Calculo que em dias como este os antigos tenham ficado baralhados e, contas feitas a eixos e ângulos, tenham continuado indicifráveis os segredos da neblina a fender qualquer certeza.<br />No Bugio suspenso sobre o Tejo, espero ver assumar à torre central aqueles que apenas se mostram nestes dias. O reflexo tremeluzente do sol na água dissolve a nitidez da imagem nas goticulas polvilhadas ao longe. Uma sombra movimenta-se na amurada.Semi-cerro os olhos na velocidade do comboio para conseguir ver o que não é mais do que um perfil roido.<br />Olho os meus companheiros de viagem na esperança de perceber se veem o mesmo que eu, mas a rapariga que arranja as unhas e se fixa na lima em vai e vem alheia-se na cadencia do kuduro que se ouve através dos head-phones. <div><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5561680955505449586" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 354px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEG_6RgzccOFD8bHqDR7nJJQFDJPa8atvOOi247qU36rWCAEbUSjfcJabiDgOU8wEAvm1dBBTG-Lp0MTcThe6JjDopG4e6KFbWOfX0lMLw-CNeNpsazw-9XmYxXDsNwVRnQNvKLHjXGkM/s400/Untitled-5A.jpg" border="0" /> <div>Um pouco adiante, a nuca grisalha de um velho não se desvia do jornal de distribuição gratuita aberto em frente. Há quem dormite, quem fale ao telemóvel. <img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5561680739525146786" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 325px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm-uN-GmrHObpax2hZcTMdMKQJLzfTa0AsqPI2VBU5qvOdOCx5oP9pVVDWKAv0TfyoLTkZFHVEOWrbdw1b8K8dQZsqf7ftiznzlhwE6SWr2C8uqURDPTXjIKB6vS5u8Bz02aU2PNkM884/s400/Untitled-4A.jpg" border="0" />E o Bugio vai ficando para trás à medida que o grande pinheiro se aproxima, e debaixo dele se encontram as duas vizinhas que todas as manhãs trazem os cães a passear no baldio. Quando a voz gravada anuncia a paragem seguinte e a carruagem é atravessada por uma ligeira agitação, estava capaz de jurar que pelo canto do olho tinha visto o Bugio levantar voo em direcção a Sul...<img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5561680599405585618" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 365px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVyyYqk4OwmVAIZuJF_VLX5AZBfWwgpRf6ylHjk0XTt763ixu3FoxH0EBlU7BR41oLEwM-uEXu-DaKZwUhXZ-zRRFzoyLSLeV2zu_yxMsMqATGV2mZDrzECRsJPPDGU6xX3W25uM8zBf4/s400/Untitled-3A.jpg" border="0" /></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-35395317479550435492011-01-04T13:40:00.001-08:002011-01-04T13:46:41.588-08:00Postal de Reis<div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMd3RWJ9hWe465sLdAA4k0ag5HxOR-JHw4GrzgD9QM9ZAbU7eoRAy5hwlTOyuTa7gXYP1HqfGAwCtD3Mo4vTm0izVQGswCOsIqAOiGH-c7lkPrJiMDh7PEoHah2UAeW_kAzh-j746ymWI/s1600/Untitled-4B.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558449531341156290" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 297px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMd3RWJ9hWe465sLdAA4k0ag5HxOR-JHw4GrzgD9QM9ZAbU7eoRAy5hwlTOyuTa7gXYP1HqfGAwCtD3Mo4vTm0izVQGswCOsIqAOiGH-c7lkPrJiMDh7PEoHah2UAeW_kAzh-j746ymWI/s320/Untitled-4B.jpg" border="0" /></a>Do alto de um 4º andar, o Menino-Jesus abana os pés ao vento. Não consegue desviar os olhos de um outro Menino-Jesus, amarelo e descorado, certamente atacado de icterícia, que desbota a cada dia que passa na fraca qualidade do fabrico, três janelas abaixo. </div><div> </div><div><div><div><div><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558449304714114322" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 325px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUBCuPHq4MMBsghlAhTPeGbl2ReWCC3Kbd_npCfFjQMQbjyeqr0hK3Y1rs7XW4kZ9xgarD2dPR7_iGSSBCVHMm0-soQKrSIK9pEtilD-IVPj6GD6CP9uP_jKYuvRcm2-1dnjdXlWmhgkk/s400/Untitled-3A.jpg" border="0" /></div><div>De pezinhos pequenos impressos em nylon, este encolhe uma bênção envergonhada enquanto olha intrigado um terceiro Menino-Jesus, redondo e reluzente, que vive na varanda do prédio em frente, adornado por um turbilhão de fitas doiradas. Recorda-se de o ver no porão do mesmo avião que o trouxe, numa outra pilha de pacotes, expedido de uma outra fábrica directamente para este condomínio de estábulos aéreos. Ele bem que teria gostado de ter nascido naquela fábrica dos meninos anafados e perfeitos e não tanto naquela que o produziu mirrado. </div><div> </div><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558449634448642162" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 391px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrTpkddO7XVQAwlL-y3GLT07e_AIdvnUo9gIXyks_VTwCBV6DhmqO1tk4CkT3NxZnqCYg0GOReqLL80IpeI6R8JjsS0NnP_1nAw2qMsUP8rTxOQH_gAC6CZOPq0ADglGmCBOPldZfzszo/s400/Untitled-5A.jpg" border="0" />Também não se teria importado de nascer em pano azul, como alguns dos Meninos-Jesus do Porto. Uma vez amarelo, também poderia ter nascido na manjedoura de palha impressa, do Menino-Jesus que habita no bairro adiante. O Menino-Mirrado acena aos quatro Pais Natal que trepam uma escada um pouco mais acima e pensa que a inveja é um pecado feio, enquanto sonha com a fatia de Bolo-Rei que está a ser comida, no interior da casa de quem o expôs.</div><div> </div><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5558449143610505682" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 210px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4uXK2zE4dr-6yio5DWnsCH_99ytA_cujnLEh_fVZ1rn9FqxUCl8Nmpm_Wv8rA04zsdREm6fZOLNGSvxRcmQJcs7791SgW1ptEVFvfyewm5KTKf2h70HZ-CbL1zCRVjscGf7tvq3jAbSM/s400/Untitled-1B.jpg" border="0" /></div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-16259244331490613512010-12-30T12:25:00.000-08:002010-12-30T15:46:17.758-08:00Último postal do ano<div>Não quero a Crise à minha mesa, não conheço essa senhora, não é minha amiga e não a quero tornar familiar. Estou cansada que me falem dela com carinho, que me adocem o seu perfil, para que me habitue à sua presença e se me anestesie a reacção. Há anos. Desde que me lembro de mim. De quando em vez, lá vem ela, lá paira ela, lá se lembram dela, lá fazem por ela. “Isto é que vai uma crise!”, cantarolava o Camilo de Oliveira à Ivone Silva há muitos anos atrás. Como se fosse um encosto, um fantasma, uma assombração, um adesivo pegajoso colado aos dedos, um caramelo fora do prazo preso aos dentes. Recuso-me a fazer aquelas bolachinhas das revistas, em forma de árvore de natal, feitos em casa mas iguais a todos, para oferecer a nas festas. Não quero procurar receitas sem ingredientes para me orgulhar com a minha resiliência – termo comum quando a adversidade aperta – ou, como sugeria um médico na rádio, escrever poemas com o título de cada letra da palavra CRISE para contrariar as suas características. Não admito este espasmo nos ombros que os encolhe com facilidade, como se não houvesse nada a fazer em relação a não se sabe bem o quê. Na noite de fim de ano vou abrir a porta ao que aí vem. Como tem sido sempre. Convosco. E isso, basta-me. Mesmo que uma voz longínqua diga “Aproveita bem, porque deixa que para o ano…”<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5556625742314333266" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 327px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1g1bPzCz7zQVwmha0uuK61NC2FcN0T5FdPsq4zeI0fbLf5xhU8hdVBYKnqnUE_4tx8iLBIMLVoITqdMPGhokRpWvF1l-bBVBIWTVCfiyMduZvPSX1A8XODeTMWFCwT97ATPzulsqeGck/s400/Untitled-1.jpg" border="0" /> <div> </div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-37222555146359040452010-12-20T11:57:00.000-08:002010-12-20T12:48:44.809-08:00Um postal de Natal<div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgucAhKudhGRABdatXysMYXzpta_mgCo3Pgc8S44DzJLkjcR0SJbKEchP488oZOwMbILhOuH0dcMoON5uSCdBl2XUQ1l_f2WHeV_pRmiAFPvmGsE5n_trXXN9_hlqIaSkELOT9N9AnNfhE/s1600/Untitled-3A.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552857048858042882" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 274px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgucAhKudhGRABdatXysMYXzpta_mgCo3Pgc8S44DzJLkjcR0SJbKEchP488oZOwMbILhOuH0dcMoON5uSCdBl2XUQ1l_f2WHeV_pRmiAFPvmGsE5n_trXXN9_hlqIaSkELOT9N9AnNfhE/s320/Untitled-3A.jpg" border="0" /></a>Vi o Pai Natal no mastro de um navio.<br />Olhava intrigado a magra chaminé, aquele tubo esguio, sem saber como entrar ou pôr-se na gávea de pé.<br />A certa altura calculei que não fosse lhe estranha a embarcação, e que sentado no alto, desse uma ou outra indicação.<br />Não sabia que vinha por mar, o Pai Natal directamente da Lapónia e atracasse em Lisboa, para os lados de Santa Apolónia.<br />Não vi prendas no convés, antes três ou quatro gaivotas com ar feliz. Esticavam as penas, as saias com godés e riam-se com sonoros pis-pis-pis. </div><div></div><br /><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552859571353363682" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 252px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiygn0RVEATATzsmZpX5t_lQGQe5gUE9Q_tG_0edYX7YKtyypCxvhBTOMu2i6I9nw1DswvE-2DpBfqixwbjvqrnPc_5p1E7a2hs1nZ-YTqUMEhIUDVvL43ulkEKTvLOxCBK0wcD2atzCrs/s320/Untitled-4A.jpg" border="0" /> <div><div><div><div><div><div><div><div><div></div>Ó Pai Natal, o que me trazes tu no porão do teu navio? Uma bota rota e um sapato? Uma vela sem pavio?<br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552858016870322530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 306px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0wKkjhc38Ja1ZqUOiziddhIF1y3x-crvs8p0yPoWDWjudydb44ClwSZLcGUwGy1MOagLXhgnCIV-mFoLnHrKZej7FH89FRqyZ-Q7mJ2d8rH8KFlkJzMM7P2JJ8eshW97nJa57nvtvE3Y/s320/Untitled-5A.jpg" border="0" />Uma rosa sem cor? Lugares-comuns para me sentar. Conversas boas, músicas que sei de cor, um boião e dentro, o mar.<br />Uma casa, um terraço, um jardim, peluches desbotados na varanda, um casaco em tons de jasmim e um carro que não anda.<br /><br /><div></div><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552858756311358930" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 235px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxqY8GDcXS6BmypKOOubwZMHiufkZY8zEValq_Kcj1Ns0j24Eyoq2n4BnV-70Ss_JyGa4_PDqY2Sm232dQPjidIyWBYaHRiRhXB0olC1ddtf9wRjulB_FFM5fUl2HqtRSkQqcO8uuHH1U/s320/Untitled-6A.jpg" border="0" /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552868903531966770" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 329px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjABPJrGefMCyGoTH9h03whmSFK6PCsX2Nf7-RVOUXPG6VbgMxuER3ktPDWmnBNrFW_vvv5VQvDKVYK9ru2i7RauYPpc0A2-IkQVM1tknKGexjf0QCfh4C5kKEDTySrwRDgdqK2xYQwG6k/s400/Untitled-2A.jpg" border="0" /> <div></div><div>Uma fábrica de acordeões ou uma sirene para tocar, na sacola farinha e limões para fazer bolos ao jantar.<br />Com o vento frio na cara, uma caminhada à beira mar a pensar que enchi de tralha o navio e fiz o Pai Natal afundar… </div><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5552859024785595058" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 223px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjSysbH9l4btbWDEn6enn_7JYIiNSfESDWl_83JI5t4FZjFhur7iQI_8XAz12I9RV9RWcddF0rq0CbNvNJJVnM-dogsEDOomS-fS2GpE-oEyqXN9-CBUVsFUXQ9Nlj9V3pYUHwtMXrcJY/s320/Untitled-1A.jpg" border="0" /> </div></div></div></div></div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-53187813718525463912010-12-13T03:42:00.001-08:002010-12-13T03:46:36.831-08:00Um postal raivosoHoje, filava-lhes as canelas!<br /><p></p><p></p><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5550131569518608450" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 355px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4HnALLwbJL2Nasz5X9cVDuRXUdLP4WYHouEUzGVuoFM8uEHA00G_MuNBXITl97NGQyRReHYpETPdtzivwHlLK_jljcbCl1gvRV3MMy4Ddf3-i5cdbnu1CWdWGxiNWjx0jI1Ag17L_47Q/s400/01.jpg" border="0" />Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-47982803175065335432010-11-19T09:43:00.000-08:002010-11-22T10:10:20.894-08:00Um postal do Subsolo<div><div>Hoje recebi uma nota de pagamento para um Imposto de Utilização do Subsolo.<br /><div></div><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5542437457507010338" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 315px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb4V_NWfaRHgZi5pj-Lsk48qKr7BfAfLhtbOpW14QfMtBkWu3ATNednobAXM11LNQ4an-BNnC6IyPXvKcA8oTd2d9V09SYFJvmQWPJQsfTZlWPxmD3anXbovZmU8MiLy8rTqDhxzW4vIA/s400/Untitled-3.jpg" border="0" /> <div>Pergunto-me que uso é este que lhe dou e que não sinto ser mais do que um trepidar de passos cá em cima, numa ressonância surda agora portajada pelo interior da terra.<br />Ainda que me tenham explicado o sentido desta taxa (como se fizesse sentido esta taxa), não consigo deixar de me imaginar toupeira importunada por cobradores de caterpillar.<br />Mas eu, que ultimamente pouco paro em casa, nada ando de metro, e de elevadores em trânsito para caves e sub-caves só esporadicamente necessito, encontro fugaz sentido em semelhante imposto apenas para quando bater botas e destroçar. </div><div><div><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5542437607387397858" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 315px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnvyyolJRu4MRMqDpPQS4YMbNFveaqWtBizhzBi7KsV4rvlDIieHN1QRGume8_K7fdv9RkcOZjwTlCBqpizztDOZWLkG6EsjwD44qIJ0KZaBjukh1tEnEfpxEgEmNHGVL9TwRHqkr30hI/s400/Untitled-1.jpg" border="0" /><br /><div><div></div><div></div><div>E mesmo nessa altura também só o pago ao cobrador que se apresentar a sete palmos de terra, vestido a rigor e de livrinho dos deves e haveres na mão, para tirar teimas. Mas para já, recuso-me a taxar os fossos dos castelos de areia que construo na praia, as covas abertas para o jogo dos guelas ou as pegadas que deixo quando vinco o chão caminhando em protesto.<br /><br /></div><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5541319844581747826" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 306px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuA1n8JREJZIscY0k9dDAPN5SSAW-77uPjgyRZgTLgj3yfFNf-c_8x8viAvgZp1VvK7iIqz1M4As8n1eVErKGD_q99Nw4jNpoFM4EyIL1DQgc9xz5T-hSQgeOQlF13_tsYFi7RuxQV8N4/s400/Untitled-4.jpg" border="0" /></div></div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-81274237882518530602010-10-19T07:14:00.000-07:002010-10-19T07:27:47.693-07:00Postal a respigar marés<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1swFOGR7iwb2RYwM_ZdClMrGP_9NDD9XZsXG1k7cZqSPT1BpaRVFHayVEhToPBizElqa2nNNHE9IHvmz-I3aN5qgwuZG8GCZTm7bXnCsg8yqPgHt20xqCbBVqSXkUoJ5vZq6IQjui2sY/s1600/Untitled-2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529763616070697474" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 290px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1swFOGR7iwb2RYwM_ZdClMrGP_9NDD9XZsXG1k7cZqSPT1BpaRVFHayVEhToPBizElqa2nNNHE9IHvmz-I3aN5qgwuZG8GCZTm7bXnCsg8yqPgHt20xqCbBVqSXkUoJ5vZq6IQjui2sY/s320/Untitled-2.jpg" border="0" /></a>O mar, é sabido, trás à praia tudo o que encontra pelo caminho. Pedras, lixo, carcaças de animais, conchas, algas, espumas, sapatos, garrafas. Hoje, que passo em comboio lento no paredão, observo um homem que atravessa a névoa das primeiras chuvas, debruçado sobre as manchas indistintas depositadas no areal. Vasculha com um pau, inclinado para conseguir ver o que as ondas trouxeram. Como um caranguejo de carapça em nylon azul escuro estica o braço a recolher um trapo rasgado. O comboio avança e o respigador de marés torna-se um ponto negro no areal.<br /><div><div><div><div><div><div><div><div><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529761543465904690" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 311px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyZvbXaNrgsCh_BNokTeD-tggmE-6ZIIBEkVmtGM2dUpXVhjd4h9kWIiYcZm_SnoGZW0tESNh5zFJXTTFAeBdm-QFY8mxYh8iAWQ1DjRa0rIXPjcqXDTYG9RJ6wCNK81gEzI5tC6DPjlM/s400/Untitled-1.jpg" border="0" /></div><div>Apetece-me sair da carruagem e ir ao seu encontro, sentar-me de longe a vê-lo desarear tesouros. Imagino que o faço. Que te dou conta das mãos sujas a revolver salvados de tantos naufrágios. O pássaro morto em voo enquanto procurava escapar ao outono, as penas de gaivota tombadas num asseio de ave a auspiciar escritas e desenhos, a sandália de plástico cor de rosa semi-enterrada, moldada a um pé inexistente, a lata de sumo vazia e amolgada, comprada numa tarde de sol para acompanhar uma sandes de mortadela, o gancho de cabelo perdido depois do beijo, quando num assomo de coragem ele a convidou a vir ver o mar, a garrafa verde de vinho, que idealizo de Rum, pertença do pirata Rackam, o Terrivel,pousada entre as rochas num passeio clandestino pelas margens do Tejo, a espuma a secar em riscos na praia. O comboio caminha terra dentro, a grande velocidade. E o mar vai ficando para trás... </div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529762886313304018" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 321px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVYiHH8x8GhxoKDnV5ueUfZjVY0OR4sIBb-k6iBs4McIqELhubmHOr8uBbU6TMhPfVuYBHFcJ3SR9Sct99kM_79zNu9GqgB2rWro1rt7F38S3uiZYM4DwZm2MBEuF1aOofE7q69Jx1GFs/s400/Untitled-3.jpg" border="0" /> <div> </div></div></div></div></div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-57229018409763772652010-09-11T08:34:00.000-07:002010-09-11T08:57:32.872-07:00Postal ao final da tarde<div><div><div><div><div><div>Tenho uma certa inveja. Sentam-se sempre os dois na varanda ao final da tarde, como se estivessem numa esplanada frente ao mar e conversam horas a fio até a noite assumar. Advinho-lhes as palavras nos sussurros que chegam até mim trazidos pelo vento, oiço-os rir enquanto a cidade se agita em baixo e eles nem veem. Não há nada mais do que o esticar de braços e o encostar das pernas ao soco do pequeno pátio suspenso como amurada de um navio, o estar ali, um com o outro, um no outro. Enquanto vou regando as plantas,<br /><div><div><div><br /><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515680476772535218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 224px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitns_bhzZXwGb5vkoxJlz5mDM3c3f9cnrU24xq_Yq1cMujZp2nOXxN_IvqA1LHnnPSjawaR8UQ-BGVEJCGrBlRlYC_rRFSYaOPqX9BhbUngqSjNB02KeA8ut7LDMGh5kV4yZ9V8aNLcL4/s400/01.jpg" border="0" /> dou por mim a prender os olhos na toalha de mesa, na buganvilia florida de roxo a um canto, no cigarro que fumega no cinzeiro de loiça, no copo de vinho a ser levado aos lábios,<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515681766291240594" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand; HEIGHT: 233px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDKybTE_96-cADvwE0FL9jm_jFzbfetkUNlx4B8uKPknfATVIUN-uQBW9Uj5KpKbt0Xt4mgszeW-MeQ6cHNmerkagApFOlO8WERkQ3huPQ7DWo3BkZr3OtRQ5_B8yPCSty3iZBtEPo6mo/s320/04.jpg" border="0" /><br /><br /><div></div><br /><div>nos petiscos sobre a mesa, na porta da cozinha entreaberta, na meia bancada com a máquina do café em cima, no poster antigo colado na parede, nas aberturas sucessivas casa dentro a deixar correr o ar agora mais fresco, nas paredes adocicadas pela luz, nos corpos em repouso cá fora, nos dedos entrecruzados sobre a nuca, no sorriso, no rosto a ¼, no olhar luminoso que o observa, na conversa que se estende no puro gosto do dizer e escutar e que eu me entretenho a imaginar, suspensa em balões de acontecimentos numa iconografia inventada, no telefone que toca, na espera pelo fim desse semi-enredo invasor, de olhos postos nos telhados onde poisam as gaivotas, na onda involuntária que me molha os pés quando o vaso transborda arrastando-me em palavrões, no pavimento encharcado, nas pegadas de água em busca de um pano, no gato que as lambisca enquanto não as seco,<br /></div><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515685227527425074" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 253px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXeG6PRjENlpk1rjPqPCokEg-Q4hmVz3J0QmohzD_o6upBt2AGNhwNKndO3G2nMB4m87urpYoNEtSqz4U7XzAnFGDoBDyBMZYfMjnaHeABvhGynpRIlyIbVtO2AtrxFGDdL1TZCvMXTJU/s320/03.jpg" border="0" /><br /><div>na mão que o afasta, no tecido a humedecer-se no descuido, na rua em baixo a ver se ninguém se molhou, na varanda onde sempre se sentam ao final da tarde, agora vazia, agora que o sol tombou. </div><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5515684820739139138" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 274px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmyAQda0vCgb87pR8VyH3OSnhFHhcxEWqWrdz6f_Dv29tpd0Pr6HwQgDTIgWFjpBPERIUXiYWWXPx-maz_t49O39kjHoeAAN61bkgyCNIsk10QPh6wzI8G6rby8I-blS21-DhLtuD1CCI/s320/02.jpg" border="0" /> <div> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-38930534703358434062010-08-10T12:39:00.000-07:002010-08-12T10:42:53.828-07:00Postal a ouvir uma conversa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjySnMOcTqSRNzZ8X0SJqG3z-4w6iNpxmuD4M6zG_4oskM1tFCvGVlK0s8n1G3dy2IQzrqMiX1FxsG8Achg9Iz0V4qdbUMvZwCe8KgPuYzPvv0_HdDXFMD7zNFdUK46zrY72fBFqVe-xAE/s1600/03a.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5503870125403003746" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 306px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjySnMOcTqSRNzZ8X0SJqG3z-4w6iNpxmuD4M6zG_4oskM1tFCvGVlK0s8n1G3dy2IQzrqMiX1FxsG8Achg9Iz0V4qdbUMvZwCe8KgPuYzPvv0_HdDXFMD7zNFdUK46zrY72fBFqVe-xAE/s320/03a.jpg" border="0" /></a>Hoje está muito calor apesar de serem nove horas da manhã e tentamos todos proteger-nos na sombra irregular de um velho plátano. Ela chega à paragem do autocarro com o saco da ginástica na mão, uns óculos escuros a reproduzir os Gucci <em>last season </em>no rosto. Calculo que tenha próximo de sessenta anos com o cabelo curto a pintar de dourado a traiçoeira passagem do tempo.<br />Destaca-se, dos que comigo esperam, pela camisola rosa brilhante com que molda o corpo cheio, numa densidade voluptuosa que todos os dias atrai o Sr. Marques ao Jardim. Sobe a rua para comprar o jornal no quiosque e seguir os trilhos dos pombos até ver surgir, no areão branco, os passos dela.<br /><br />Aproxima-se da paragem e mete conversa.<br /><br />- Então D. Estrela, continua a fazer a sua dieta?<br />- Continuo Sr. Marques. Mas agora, estou a fazê-la melhor.<br />- Melhor?<br />- Sim. Agora só como alfaces.<br />- Alfaces...<br />- Sim. É só alfaces.<br />- Isso não me parece muito bem....<br /><br />D. Estrela crava-lhe os olhos.<br />O Sr. Marques apercebe-se que o tom pouco reconhecido gerou incómodo.<br /><br />-...devia comer fruta, acrescenta.<br />- E como. Como alfaces e fruta!<br />- A minha neta só come peros...<br />- Também levo aqui um.<br /><br /><div><div><div><div><div><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5503871643632592066" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 364px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGHypp10HV2tkf_PLV3ai7b9F8uqCkZanYuydDPL-AXiZJKvJEqbMzQ3HPUPGg3p-9kO9tpYUDGL0ekJoDJRnCKEmEpXg3IeVN-OKUvcSoegg6QFfJLUE-G80YKa6RafcwB1y1LWS7WA8/s400/01a.jpg" border="0" /> D. Estrela ajeita a gola que se engelha a cada frase.<br /><br /><div>O Sr. Marques segue-lhe atentamente o gesto.<br /><br />- Não dê salada de frutas à sua neta, diz ela.<br />- Eu não dou.<br />- No outro dia disse que lhe tinha feito uma...<br />- Fiz. Mas ela não comeu.<br />- Fez ela bem.<br /><br />Com a mão esticada D. Estrela alisa a camisola. </div><br /><div>O Sr. Marques segue-lhe atentamente no gesto.<br /><br />- Digo isto por causa da mistura das frutas. Algumas fazem inchar..., enfatiza ela arrastando as palavras.<br />- Ela não quis comer. Pegou num pero, sem descascar nem nada, lavou-o e comeu-o<br />- Já faço isso ha tanto tempo...<br /><br />O olhar dela a procurar o transporte que não chega, </div><br /><div>os olhos dele no decote, </div><br /><div>sorriso como se não soubesse, </div><br /><div>sorriso a procurar disfarçar... </div><br /><br /><br /><div></div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5504579182876290258" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 297px; CURSOR: hand; HEIGHT: 221px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSM6-omleiFTtfdfRgjF52pou1hzIO-BKgg4UXPbFOcB3hB2q61ySWMf7e1KIeFXLzdHFXxLgEtzAcqPp3GKdoH40m-zJ2SVYZuC2KbICUwX1Ux61c7NrqAW99yZOWRemDiibrW0EGYlU/s320/05a.jpg" border="0" /><br />- D. Estrela ponha a sua mala ali no banco para não estar tão carregada.<br />- Não posso, está ao sol. E levo aqui um iogurte....pode-se estragar.<br /><br />Segura com as duas mãos a alça do saco enquanto acrescenta<br /><br />- e uma sandes....<br /><br /><br /><div></div><div>Silencio, enquanto baloiça corpo e mala de tras para a frente a marcar os minutos.<br /><br />- Agora, só como alfaces, fruta, iogurtes e sandes... dispara de soslaio a deter o ondear hipnótico.<br /></div><div>E às vezes uns sonhos..<br /><br />Os olhos de D. Estrela abrem-se por detrás dos óculos escuros, morde o lábio inferior a saborear a ideia, o baton prende-se no canino. </div><div>O Sr. Marques engole em seco. O estomago ruge... Na folha de rosto do jornal apenas consegue ver a boca suja de açucar de D. Estrela enquanto o autocarro se afasta da paragem quase vazia. </div><br /><div></div><br /><div><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5503871999058750866" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 312px; CURSOR: hand; HEIGHT: 400px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-MuoTi9cGUbdwR3YGcHvVBqkas2tkPynwjtYAnK6KOJfZHbDZ87pJZpEjzrUcUzByZA8IkXEgy7PYNc9m8KnmD_cUVm02uSaiVS49ieziYgovqwRIoWAzE-7MB8pZdFm_CXPHNUOBty4/s400/02a.jpg" border="0" /></div></div></div></div></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-49593353499501469442010-07-20T14:28:00.001-07:002010-07-25T10:53:48.197-07:00Um postal ao balcãoAjeito-me entre as Empadas e os Palmiers e procuro na mala a caneta para te escrever. É cedo e a pastelaria está às moscas. O Sr. João trouxe-me entretanto o carioca que lhe pedi. <img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 245px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496109119159465522" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgz8oYghw8yy9JEM0Fwu8SUAOWqxJ2MQIcWYpvHRyomOPF3iZXzhLB1vjPuADthWzuyGNCWjwcQJLOhloqY0mE23LHE7G5HLWpFKXlatiLGYLlxEb8DxzZmdsg_Hv68qWuLzkyQ-DongPY/s320/06a.jpg" /> À medida que se aproxima a hora do autocarro, surgem mais clientes. Gosto quando se detêm frente à montra dos bolos e lhes vejo os olhos, e neles o pensamento, as calorias, as cáries, o colesterol, a dieta, a gula, o horário do dia com a pausa para comer, o saquinho de papel manchado de gordura, o Bolo de Arroz, o Rim ou o Jesuita, comprados nesta manhã em que te escrevo, a desaparecerem, boca fora, já longe do meu olhar. Enquanto espera o embrulho para levar, a senhora velha pede um <em>garoto</em>, o carteiro uma <em>bica</em>, um homem de calças de ganga pintada um <em>café</em>. Não é um <em>cafézinho</em> como o da D. Olga, tomado em sorvo aflito a enganar o quente no passo apressado pela preocupação de levar o neto ao infantário. Nem tão pouco um <em>café quase cheio</em> que faz parecer a cafeina um inimigo menor. É um café <em>café</em>, ainda que a piscar o olho a um <em>cheirinho</em> para aguentar a dureza do dia nas obras de reconstrução do prédio ao lado.<br /><br /><br /><br /><div><div><div></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 269px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496110483639813634" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt4kqBGMw9vkzOmYx42tzhZDiGGq6NUhNmHgqFcQPXdNwuwSa3JczGf6SZRFhdFxgjcdnEXueWYm1XcmuKy7RLXiEom-rzYbONY6PTdTyTRsS51L5-W2u0pVn6EKKW9rsgnDGo4jCW2Q0/s320/02a.jpg" /><br /><br /><div>Ha quem se aproxime e peça um <em>descafeinado</em>, quem goste de uma <em>chicara</em> ou da <em>chavena escaldada</em> aninhada nos dedos a activar a circulação. Alguns pagam o totoloto entre golos e <em>galões</em>. Outros, hesitam entre <em>abatanados</em> e <em>meias de leite</em> a ouvir ao longe o autocarro em esforço a subir a rua. Ha quem tenha ainda tempo para uma <em>italiana</em>, um <em>café duplo</em>, um <em>duplo escaldado</em>, um <em>pingado</em>, com açucar, sem acuçar, com frutose, com pauzinhos de canela. </div><div></div><div></div><br /><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 290px; DISPLAY: block; HEIGHT: 116px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5497900477651432546" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRoOaGzl3x40-1Foq89yHoMloRwEoe6yxSr-kayj-yWFSibkpxf20hQDUTiobAkCrnZSEj7qQmojSl7Q0VQhqwRReV1fVrvMJXIDT0isHC6AQzEdpCM4eUs0Iuz8nUQREOdcyDslkahns/s320/03a.jpg" /> <div></div><div></div><div></div><div>Há quem pague e quem deixe ficar as moedas sobre o balcão, quem pague mais logo, quem ponha na conta, quem se esqueça, quem desapareça porta fora. Pego no postal, despeço-me e corro para não perder o transporte.<br /></div><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 202px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5496106938288588690" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr3gUWS5Eq0pM5Js4CxRUUeUu1p6mJ5_rZ3VCNVaNp1xSITygTizm9rTXtawTQxZvk5LadqyT-lmOt9Ful80cx4ifyib1mkZLefWlE9Xx_mUjBYbKoO8oz4ehBjWWnHhL-dLp6XwVwpJ8/s320/01a.jpg" /></div></div>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-58759832567534067862010-06-19T15:38:00.000-07:002010-06-19T17:12:13.837-07:00Um postal entre dentes<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTxfGDCHLmnS1oEknyueojruONCBg1uZl8fT1J_yoEUD92CkgWvHTLjs03aVEHrNtAsopzYnR5OkkiarUadGoh4qI4vMWL8pJ2x2bmYMynNcfMkzzWYtA2tW9W3SWZ0AsuCoge_RoNvSk/s1600/um_postal_entre_dentes1.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 278px; DISPLAY: block; HEIGHT: 133px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5484619964119478162" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTxfGDCHLmnS1oEknyueojruONCBg1uZl8fT1J_yoEUD92CkgWvHTLjs03aVEHrNtAsopzYnR5OkkiarUadGoh4qI4vMWL8pJ2x2bmYMynNcfMkzzWYtA2tW9W3SWZ0AsuCoge_RoNvSk/s320/um_postal_entre_dentes1.jpg" /></a> De todos os feitios, as falésias, as ravinas e as ondas do sul de Portugal procuram seduzir os turistas. Há-as para todos os gostos e o postal em forma de trevo de quatro folhas augura boa sorte.<br />Quem olha para tudo muito desconfiada é a velha desdentada que na loja assiste ao esgotar do stock. No seu tempo não existia silicone e os fatos de banho bem cobertos não permitiam excessos. A fotografia de casamento, exposta num canto da loja, entre fatos de banho e sandálias, atesta a sua seriedade e estas modernices quase fazem corar a noiva e os convidados.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh06T6eHLXeP-kpqI3b4RI_S9xnSfNRTgb_Dnyp-Ugwr-Ee-MVMWloXNqfieAd8N1-nDKzlH6BLiyJ0GB1y7AuSsRC_9JNteerASiwAHCKbhQNiptj-K9AlprixHcxRnKJHZzXb9bMVl_I/s1600/um_postal_entre_dentes2.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 216px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5484619067295788146" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh06T6eHLXeP-kpqI3b4RI_S9xnSfNRTgb_Dnyp-Ugwr-Ee-MVMWloXNqfieAd8N1-nDKzlH6BLiyJ0GB1y7AuSsRC_9JNteerASiwAHCKbhQNiptj-K9AlprixHcxRnKJHZzXb9bMVl_I/s400/um_postal_entre_dentes2.jpg" /></a><br />Mas quando os visitantes regressam aos hotéis e a noite cai sobre a falésia, é possível ver-se ao longe, correndo pelo areal, uma mulher nua que para trás deixou apenas a dentadura…Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1112108015319600805.post-4479301844240179852010-06-19T15:08:00.001-07:002010-06-19T15:34:16.594-07:00Um postal de invernoQuis só mandar-te um abraço, hoje que tive um dia de cão. Tive aulas miseráveis em presença de uma colega que acha. Acha sempre qualquer coisa sobre tudo e eu acho que estou farta dela achar tanto e ser tão pouco. <br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiH3MBhPianJhDTXhTFtMa4b56snpZ09J5wOTUxVFMD6gPW7OKjTJkCkFMYm16L-ZXskcbXVMwDoY1X-jEDdByW-9G0QDyOnMhNSIP1TjwaRdWM8AiXnMh5VnwuU320fxtu32JHj1cw2VE/s1600/um_postal_de_inverno2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 138px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiH3MBhPianJhDTXhTFtMa4b56snpZ09J5wOTUxVFMD6gPW7OKjTJkCkFMYm16L-ZXskcbXVMwDoY1X-jEDdByW-9G0QDyOnMhNSIP1TjwaRdWM8AiXnMh5VnwuU320fxtu32JHj1cw2VE/s400/um_postal_de_inverno2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5484614462076770706" /></a><br />Choveu a potes e eu esqueci-me do guarda-chuva. Cheguei ao emprego como uma esponja, encharquei o soalho encerado e chamaram-me a atenção por isso. O computador engasgou-se e fez desaparecer um texto inteiro. Perdi o autocarro, o outro passou em cima de uma poça e molhou a velha atrás de mim que vociferou “devo estar toda negra!”. O negro atrás dela riu mostrando uns dentes muito brancos e eu ri-me também quando um relâmpago rebentou por detrás do Carmo. Porra! Morro de medo de trovoadas… <br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4kltzhneKNdFRRS_wnKh9NNvhTK9e57-okvP0pNtr42yOoUP1P9-EeIsgIYafFShk4B5CajOoIq0QjF3jawXFRsK7cFhoSZcTiA14vGbUyXM6h2es2DYNVWfhExbrhTeRsuX9tM7_-To/s1600/um_postal_de_inverno4.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 135px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4kltzhneKNdFRRS_wnKh9NNvhTK9e57-okvP0pNtr42yOoUP1P9-EeIsgIYafFShk4B5CajOoIq0QjF3jawXFRsK7cFhoSZcTiA14vGbUyXM6h2es2DYNVWfhExbrhTeRsuX9tM7_-To/s400/um_postal_de_inverno4.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5484616571094027410" /></a><br />Cheguei a casa cansada de me arreliar com tudo, é que ele há dias assim, e no final… olha apeteceu-me mandar-te um abraço, hoje, que tive um dia de cão.<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE57FNzGXGlEp0vhDOW4-5svKtYsGbAiEPd1NGGh1ZBt6GLBInao4LdkhiZX2G3Wcd2egMB8J7ZIH4TtqK1H8HXHeRYmp7nVASHmjc1bkWXC1JYMMlnxnUMJt3h3bj5GqfcsP6kXzjSDg/s1600/um_postal_de_inverno1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 232px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjE57FNzGXGlEp0vhDOW4-5svKtYsGbAiEPd1NGGh1ZBt6GLBInao4LdkhiZX2G3Wcd2egMB8J7ZIH4TtqK1H8HXHeRYmp7nVASHmjc1bkWXC1JYMMlnxnUMJt3h3bj5GqfcsP6kXzjSDg/s320/um_postal_de_inverno1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5484613589452010146" /></a>Ana e André Ruivohttp://www.blogger.com/profile/13201161614152329196noreply@blogger.com0