quinta-feira, 5 de maio de 2011

Postal em passo de corrida

Hoje já havia banhistas junto aos pneus que o Verão ainda não retirou da praia e escaldam ambos ao sol, nos refegos da sua compleição, espalhados pelo areal.
Os meus olhos fixam-se nas três senhoras de ar antigo, fatos de banho coloridos e enormes chapéus de palha que avançam em passo decidido junto à borda da água. Riem muito na cumplicidade embalada pelo fresco da manhã que aviva as memórias e a língua afiada na crítica do quotidiano. Vejo-as todas as manhãs, ora na praia, ora no paredão, com o passo marchado recomendado pelos médicos da televisão. Sempre que encontram as guardas metálicas de protecção contra qualquer queda para as rochas em baixo, detêm-se todas juntas, de costas para a linha de comboio, e só lhes vejo os chapéus de abas largas e meio troco comprimido pelos anos, a avançar e recuar em flexões esforçadas como se fossem cabos na recruta.

O exercício sai meio torto, mas o que conta é a intenção, já deixaram o sonho de ser ginastas há muito. Uma delas chegou a ser federada mas o casamento trocou-lhe as voltas. Agora viúva e os filhos já criados é craque do varão e incita as amigas ao exercício, reinventando enunciados da juventude.
Retiro da mochila o chapéu de pano florido e alinho a corrida de aquecimento, antes de me juntar às minhas companheiras de manutenção. Saúdam-me festivas ao verem-me chegar. Na bolsa exterior ficou o postal que te escrevi. Espero não me esquecer de o pôr no correio quando regressar a casa.


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